segunda-feira, 3 de maio de 2010

Resenha

Depoimentos e memórias: a Literatura baiana 1920-1980

Uma nova edição do livro Literatura baiana 1920-1980 está sendo lançada por Valdomiro Santana numa parceria entre a Editora Casa de palavras e a UEFS, através da colaboração do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural. A segunda edição, revista e ampliada pelo autor - “natural de Campo Formoso, jornalista, escritor, editor e mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)” (p. 195) –, traz um rico panorama a respeito da produção literária na Bahia durante boa parte do século XX, entre as décadas de 1920 e 1980.
Na orelha do livro, o texto do professor Aleilton Fonseca, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural da UEFS, sintetiza a proposta do livro e a contribuição para o estudo e compreensão do que se produziu e se produz de Literatura na Bahia: “Num tempo de memórias difusas e registros passageiros, este livro é uma contribuição notável pela riqueza das informações, pela força dos testemunhos, pela originalidade da proposta”.

A obra de Valdomiro é composta por depoimentos de escritores que estiveram diretamente envolvidos em movimentos de defesa da produção literária na Bahia, no eixo Salvador-Feira de Santana- Itabuna. Todos contam as experiências vividas em grupos e publicações que fomentavam a literatura e a arte na Bahia. Entre os nomes estão: Jorge Amado, narrando a experiência da Academia dos Rebeldes, movimento de repercussão modernista; Carvalho Filho, que fala a respeito da revista Arco & Flexa; além de Bráulio de Abreu, Vasconcelos Maia, Florisvaldo Matos, José Carlos Capinan, Guido Guerra, Antonio Brasileiro, Ruy Espinheira filho, Getúlio Santana e Nildão, Myriam Fraga, Roberval Pereyr, Washington Queiroz, Juraci Dórea, Iderval Miranda, Antonio Brasileiro e Plínio Aguiar.

Os testemunhos enriquecem o olhar de todos que desejam conhecer um pouco mais a respeito da produção literária na Bahia. Chamam a atenção os depoimentos do poeta Bráulio de Abreu, “modesto funcionário público e alfaiate, que não chegou a concluir o curso primário” (p. 43) e viveu entre escritores que criaram a revista Samba; a fala de Florisvaldo Matos a respeito da poesia e do desinteresse dos meios de comunicação de massa para com a arte; as palavras de Guido Guerra sobre O problema editorial da literatura baiana (p. 95). Getúlio Santana e Nildão explicam o funcionamento da bem-humorada livraria Literarte; Myriam Fraga lança sua fala sobre a Coleção dos Novos, projeto que contribuiu para dar espaço a jovens escritores baianos entre 1980 e 1983.

Nos últimos textos do livro surgem as falas de escritores que participaram de uma confraria de jovens que originou a revista Hera. Em acalorados depoimentos brotam ideias distintas a respeito do significado do grupo que passou a se reunir em Feria de Santana sob a liderança do poeta e professor Antonio Brasileiro em 1972. Outra observação atenta deve ser lançada sob o depoimento de Plínio Aguiar a respeito da produção literária em Itabuna e a sombra benigna do anjo bêbado Firmino Rocha (p. 187).

Literatura baiana 1920-1980 nos embebe de falas diversas, apaixonadas e intensas em histórias, humanidade, arte e poesia, legando-nos a memória de uma Literatura singular que merece uma apreciação maior por parte de toda a sociedade brasileira e, principalmente, dos quatro cantos da Bahia.

SANTANA, Valdomiro. Literatura baiana 1920-1980. 2. ed. rev. amp. Salvador: Editora Casa de Palavras/ Fundação Casa de Jorge Amado – FCJA, 2009; Feira de Santana: Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural – PPGLDC/ Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.

Por: Gildeone dos Santos Oliveira.

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